Quando iniciei no
mundo das artes gráfica a tipografia era um processo atual e muito
utilizado e montador e retocador de fotolito eram contratados a “peso
de ouro”.
A busca por
impressores off-set nos classificados dos principais jornais do país
ocupam de uma a duas páginas e quem era diagramador tinha status de
executivo.
Tempos em que o
profissional era valorizado pelo seu conhecimento e desempenho e o
conhecimento fazia a diferença. Tempos onde as empresas colocavam
“plaquinhas” em suas portas em busca de profissionais e a
entrevista era feita pelo encarregado que colocava você na frente do
equipamento para um “teste prático”, onde você podia, por
meritocracia, revelar o quanto sabia e assim ser contratado ou não.
Encarregados eram
como “capatazes” que vigiavam os funcionários e estes
respeitavam a hierarquia e aos comandos dados.
O RH era somente
depto. pessoal e o dono ficava no alto de uma sala com um
vitro de onde, as vezes, gritava com o encarregado: “sobe aqui,
preciso falar com você”.
A flexografia estava
engatinhando no Brasil, ainda usávamos clichês de borracha, prensas
de vulcanização e baquelite. Cola de benzina estavam sobre as
bancadas juntamente com facas feitas de lâminas de serra usada e
réguas de plástico carcomidas nas pontas.
A impressão flexo
era uma forma de pintar papel ou marcar alguma informação,
quadricromia, pantone, tintas UV isso era impensável, na realidade
muitos de nós nem sabia o que era ou se existia.
Impressora Brasibérica |
Modular, nem se
passava na cabeça dos projetistas e tambor central era, na banda
estreita, um mercado da Ibirama. Banda larga era conhecida como
impressão de embalagens. A gente tinha Horvat, Brasibérica, Tayo
Thunder que depois virou Thunder Comat, Rami e outros pioneiros e
desbravadores. Lembro-me do Sr. Miguel, da Thunder, me deu um estágio
em sua fábrica e me apresentou a Bril Loyd onde fiz um estágio de
tintas, aprendi muito lá, este foi um dos percursores da tecnologia
e um dos primeiros a escrever sobre flexo nas revistas gráficas
especializadas e se não o primeiro em trazer o conceito da FTA para
o Brasil, um grande homem, em todos os sentidos ele tinha quase dois
metros (se não mais...rs).
Sr Miguel sendo homenageado |
A Divani era uma
potência, tinha unidades distintas para impressão de sacos
multifoliados em papel, impressão de embalagens papel e plástico,
nesta época o Mappin era o que mais se aproximava de um shopping
center e a Mesbla era a segunda opção de compras.
A Toga ainda era uma
única empresa e a Dixie dominava a fabricação de copos
descartáveis de papel, não existia copos em PS.
Notas fiscais eram
impressas em matricial e o carbono fazia parte de tudo, desde o bloco
de pedidos do vendedor até no contracheques do funcionário.
Antigo prédio do Mappin |
As tintas não havia
muito evolução ou era a base de água para impressão de papel do
tipo caixas de papelão e sacos de “padaria” ou solvente para
impressão de plástico, que neste caso só existia duas opções
também ou a embalagem era de Polietileno (PE) ou de polipropileno
(PP), uma ou outra variável na composição do PE para sacos de
leite. Isso mesmo, o leite era vendido em sacos de plástico nas
padarias e todos os dias era necessário comprar o leite, pois este
azedava com facilidade.
Embalagem longa
vida, foi anunciada a primeira vez no Brasil pelo Pelé em rede
nacional, estreando a participação da Tetra Pack no mercado
nacional e extrato de tomate era vendido em latas com a foto de um
elefante (não entendia o que o elefante tinha a ver com tomate, mas
tudo bem).
Café era o Seleto,
coado em saco de pano e açúcar o união. Shampoo Colorama e creme
de barba era Bozano com certeza. Mas nessa época minha barba não
havia se manifestado.
Lembro de acordar as
4h00, tomar café com um pão do dia anterior, manteiga Claybom e
café puro. Metrô somente algumas linhas, mas o ônibus era
indispensável. Não existia vale transporte ou outro cartões, ou
pagava-se em dinheiro ou em passe, um tipo de “ticket” que se
comprava com antecedência em postos autorizados. CMTC era a empresa
mantida pela prefeitura e Viação Carrão uns ônibus cacarecados
que de tão lotados eu viajava na porta.
Ônibus elétrico CMTC linha Pinheiros |
Uma condução até
o Parque Dom Pedro, caminhada até o Largo do Paisandú e mais uma
condução até Barra Funda. Isso tudo com apenas 14 anos de idade.
Chegando lá, a Divani me esperava de braços abertos, máquinas
sujas de tintas, bobinas para empurrar, clichês para lavar, graxa
para passar nas engrenagens, almotolia para pingar óleo nos mancais
e muitas ordens de serviço para executar.
Mas ao final do dia,
que tinha incríveis 11 horas, a felicidade e o cansaço eram
presentes. Feliz por realizar algo diferente e legal, afinal eu tinha
14 anos e criava algo que as pessoas pegam na mão, compravam com os
olhos nas gôndulas do supermercado ou simplesmente colocavam suas
pipocas nos saquinhos de papel que as SOS produziam. O Cansaço era
inerente ao processo, não parávamos por nada, só para almoçar.
Este sim era um
prazer de outro mundo! Minhã mãe preparava minha marmita com muito
carinho, era o feijão por baixo (estratégia para não vazar o
caldo, coisa de mãe), arroz por cima e a mistura. Eu sempre falava
para minha mãe esconder a mistura entre as camadas de arroz. Nesta
época o furto a misturas de marmita era um delito cometido em muitas
empresas, kkkkkk. Eu juro, nunca roubei nenhuma mistura.
Prédio da Matriz Extinta Divani S/A Embalagens São Paulo/ Ruda dos Americanos 533 |
E é isso, o tempo
foi passando, a evolução acontecendo, a melhoria ocorre tanto no
transporte, na alimentação (hoje tem ticket e refeitório e o
funcionário ainda reclama, vai entender).
As máquinas tiveram
evoluções incríveis, é mais fácil operar, usar e entender o
funcionamento.
Tem o Google e o
Youtube, pense numa escola que é isso. No meu tempo você mandava
uma carta para o fabricante ou pessoa, perguntando o que era e como
funcionava e com sorte depois de uns 30 dias recebia uma resposta, as
vezes não a que esperava.
Hoje é fácil se
tornar profissional em qualquer área. Não existe mais a tipografia,
diagramador pode ser qualquer um pois já não existe regras na
escrita, postagem ou padrão de estilo. Não existe mais a
obrigatoriedade de se fazer um teste prático e o curriculum de uma
pessoa é avaliado por quem nunca viu uma máquina no conjunto da
obra ou não faz ideia de como a embalagens é fabricada, estas
empresas de RH contratadas para “gestão de pessoas”, e ai que tá
o problemas, o empresário vai reclamar depois por que e para quem?
Retocador de
fotolito ou virou Uber ou evolui para outro profissão da área, por
falar nisso nem o fotolito existe mais.
Ibirama Midiflex Pioneira |
E agora pergunto,
tanta evolução, tando sucessos, tantas profissões e métodos
deixaram de existir e a arte da impressão, o impresso, os livros e
revistas (pois bancas de jornal já nem se vê), qual será o destino
delas nos próximos 20 anos?
Abraços a todos.
Mto interessante td isso, sou impressor, e aprendi td sem curso, só na prática, e tenho mto orgulho da minha profissão
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