Em mais de 35 anos de atuação no segmento flexográfico e de artes gráficas participei e fui colaborador de algumas empresas do setor, desde convertedores de rótulos, etiquetas, embalagens flexíveis e corrugadas a fabricantes de máquinas e equipamentos e importadores.
Também, nestes anos fiz muitas especializações, cursos extras curriculares, complementares e de áreas ligadas a engenharia e desenhos mecânicos e eletrônica industrial justamente para poder ser o mais completo e acertivo consultor para o segmento flexográfico e artes gráficas, podendo não só opinar mas encontrar os diversos pontos convergentes tanto mecânicos, eletrônicos como humanos na fabricação e solução de problemas relacionados ao processo de impressão.
E em minhas participações tanto como desenvolvedor e projetista de alguns equipamentos e dispositivos como atuante como colaborador nestas empresas fabricantes vi muita coisa divergente no processo de desenvolvimento, projeto e construção de máquinas.
Um dos pontos que mais me chama atenção é a total falta de projetos por grande parte dos fabricantes. Mas ai você me pergunta: "Então como eles fabricam máquinas sem projeto?". A resposta é simples: "Cópias!". Isso mesmo, grande parte dos fabricantes produzem máquinas flexográficas que são a cópia, da cópia de uma cópia. Outro fator é que a rotatividade de alguns funcionários por empresas ou a migração de algum destes funcionários levaram com eles a ideia principal e com pouquíssimas modificações na estrutura (cortes de chapa por assim dizer) criaram "novas empresas" fabricantes de máquinas.
Então, resumindo, se você pegar e listar as empresas fabricantes de máquinas hoje que restaram (pós pandemia, escrevo esta matéria em 11/20), quase todas possuem suas máquinas e estruturas muito iguais. Uns até só mudam a cor da pintura.
Mas vamos lá, por que as empresas de máquinas então fazem isso?
Por quê projetar máquinas é muito caro. Sim, copiar é mais fácil! Tem um ditado que diz: "Quem não cria, copia!", por isso que é mais fácil copiar. E mudar conceitos é complicado, ninguém quer inovar, mesmo que com isso você economize material, usinagem, tempo e dinheiro. Outro ditado muito comum é: "Ninguém quer mexer em time que esta ganhando!".
Para projetar máquina é necessário antes de mais nada conhecimento. Não conhecer usinagem, que tipo de aço vai usar ou quantos rolamentos 1202 vai precisar, não é este conhecimento de produção que eu estou dizendo, é o conhecimento do processo flexográfico, conhecimento do produto a ser realizado pela máquina ao menos teórico ou por consulta ao clientes este conhecimento é necessário.
Uma vez levantado o que ou o conhecimento do processo ter sido bem compreendido precisamos de alguém com experiência em projetos, que conheça e saiba organizar as ideias e produzir desenhos das peças e partes.
Mas só desenhar não é requisito de sucesso, tem que saber se elas se encaixam, se as furações batem, se os eixos, rolamentos, buchas e mancais se alinham e se não há nenhum tipo de "ruido" ou "interferência" que possa dar retrabalho ou perda de peças e parte (matar peças como chamamos na indústria mecânica).
Para isso usamos softwares de desenho 3D paramétrico, próprios para engenharia, antes utlizava-se o autocad (que fazia somente desenhos 2D) hoje o próprio autocad evoluiu e tem inúmeros outros aplicativos para esta função com preços que variam de pouco mais que umas centenas de dólares até milhares de dólares.
Este é outro ponto, valores envolvidos na aquisição de software e computador. Colocar um produto destes pirata não é bom, pois em uma fiscalização só a multa quebraria as empresas fabricantes de máquinas umas 4 vezes.
Outro ponto a se destacar, produzir máquinas, quando é um desenvolvimento requer prototipagem de peças. Isso quer dizer que se tem que fazer uma ou mais peças para testar não só o funcionamento mas a real capacidade da máquina, seus encaixes e facilidade de operação. Nesta etapa os valores envolvidos são bastante consideráveis e como grande parte dos fabricantes também não tem lá muito dinheiro em caixa sobrando para projetos e novos desenvolvimentos esta "nova máquina" tem que esperar algum investidor que "compre a ideia" e aceite o risco.
Os projetos consomem muitas horas não só de desenho mas também de pesquisa no quesito de tipos de partes envolvidas na fabricação. Estas pesquisas buscam alternativas aos rolamentos, buchas, mancais, eixos, parafusos, tipos de tintas de pintura externa, equipamentos eletrônicos e elétricos seus preços e disponibilidade de entrega e de estoque no Brasil e facilidade de acesso ou substituição destas peças caso algo dê errado ou "quebre" no cliente.
Bem, só para você ter uma ideia uma troqueladora de 120mm de largura possui mais de 90 peças diretas e indiretas dependentes de desenho ou que são adquiridas no mercado para sua montagem e funcionamento. Um projeto de troqueladora deste porte, com uma estação só de corte, um eixo rebobinador e um desbobinador e um retirador de esqueleto leva de 20 a 30 dias de projeto que incluem desenho e protótipos, levantamento de peços e listagem de montagem.
Se levar a cabo este período teremos um total de 160 a 240 horas a um valor médio de R$22,00 a hora de projeto (somente a mão de obra do projetista), teríamos algo perto de R$5280,00, só para colocar no "papel" (no caso hoje pendrive). A estes valores teremos que somar ainda o valor da depreciação do computador, software, espaço físico (aluguel da sala ou imóvel onde esta o escritório de projetos), etc.. etc... que dá ai mais uns R$2000,00, então hipoteticamente falando seria necessário sem usinar um único parafuso de R$7280,00 mais ou menos para projetar uma troqueladora de pouco mais de R$20000,00.
Agora, além disso tem outros fatores a serem considerados, o fator inovação, tempo de retorno do investimento, releases de projetos, correções, acompanhamento no desenvolvimento e montagem por parte do projetista, etc.. que, dependendo do tempo de fabricação e disponibilidade para a montagem podem ter um custo acrescidos das horas de participação do projetista (aquelas R$22,00 por hora).
Viram por que é mais barato copiar!
Estes são só os investimento iniciais ok. Tem que levar em conta depois, como é uma primeira máquina e não se faz peças em quantidade que o custo de usinagem quase que dobra.
Mas isso é assunto para uma próxima publicação.
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